Por M. Sc. Maida Millán Álvarez*
Colaborador da Prensa Latina
Do lado de fora, as sirenes das patrulhas de Batista soavam e informantes espreitavam nas esquinas. As casas, quase às escuras, aguardavam aqueles que em silêncio e em baixíssimo som ouviam a emissão da estação.
As notas do Hino Invasor indicavam que estavam no tom certo, seguido da apresentação: Aqui Rádio Rebelde, órgão oficial do Movimento 26 de Julho e do Exército Rebelde…!
Ernesto Che Guevara, iniciador da ideia de uma usina de transmissão, estabeleceu contatos com o pessoal técnico e pediu aos camaradas que foram à planície que enviassem equipamentos para tais fins.
Em 16 de fevereiro de 1958, após uma odisséia épica pelas estreitas estradas da serra, o transmissor de média potência chegou montado em mulas e foi instalado na área entre La Pata de La Mesa e Altos de Conrado na Serra Maestra, onde ele operava.
Esse era então um equipamento fraco e com pouco alcance, o que foi revertido em pouco tempo. A esse respeito, Fidel Castro afirmava em 1973: “…E a eficiência deles foi melhorando gradativamente, é difícil para mim entender como eles conseguiram fazer com que aquela pequena equipe tivesse alta eficiência e chegasse a qualquer parte do país e ao exterior… “.
O dia 24 de fevereiro de 1958 marcou o toque pela primeira vez desta estação que desempenhou um duplo papel na etapa final da luta insurrecional: por um lado, foi a forma destacada das forças revolucionárias para negar as mensagens distorcidas da tirania, informar e alertar a população sobre a presença beligerante do Exército Rebelde nas montanhas orientais.
Enquanto isso, tornou-se um meio de comunicação para as tropas rebeldes em operações militares, que conheciam a real situação na Sierra Maestra através dos relatórios e informes que foram transmitidos.
A 14 de abril, após o fracasso da greve geral, o Comandante-em-Chefe fez a sua primeira intervenção na Rádio Rebelde, na qual analisou a situação existente e as perspectivas da luta revolucionária, e desmentiu as mentiras propagadas pela ditadura através dos meios de comunicação.
O chefe guerrilheiro tentou levantar o moral do povo e reafirmar a convicção de lutar, o que se refletiu na carta que enviou a Faustino Pérez em 25 de abril de 1958: “…tenho a mais forte esperança de que em menor tempo que muitos são capazes de imaginar teremos transformado a derrota em vitória…”.
IMPORT NCIA DA INFORMAÇÃO TRANSCENDENTAL
A estação atingiu uma importância transcendental para todas as informações ao país e por isso foi perseguida pelo inimigo. Diante de tal situação, Fidel decidiu transferi-la para perto do Comando Geral do Exército Rebelde em La Plata, onde se localizava o grosso dos rebeldes. Assim, a possibilidade de defesa e agilidade na transmissão das mensagens foi maior.
O primeiro programa do novo ponto foi transmitido em 1º de maio e, a partir desse momento, a Rádio Rebelde anunciou todos os movimentos das forças inimigas antes de iniciar a ofensiva com a qual o regime pretendia destruir os guerrilheiros.
A ideia do Che foi promissora quando ele criou esta emissora, também precedida por ele com o pequeno jornal El Cubano Libre, que leva o nome em honra do que era do exército mambí. Esses veículos de propaganda revolucionária, surgidos em território rebelde, deram continuidade às publicações clandestinas:
O Acusador, a História me absolverá, e os manifestos número 1 e 2 do Movimento 26 de Julho, que especificavam o princípio sustentado por Fidel de esclarecer, orientar e mobilizar as massas, sobretudo dizendo-lhes a verdade.
“…Um princípio básico na história desta emissora é que ali nunca se contava uma mentira, nunca se exagerava uma notícia. Os resultados de cada ação se refletiam com absoluta verdade…”, expressou Fidel em 1973.
A Rádio Rebelde transmitiu relatórios relatando a situação militar, as batalhas e combates ocorridos nas diferentes frentes e os nomes dos mortos. Muitos destes documentos foram cuidadosamente guardados e encontram-se agora nos arquivos, o que nos permite conhecer os pormenores dos acontecimentos.
E nos resultados da investigação brotaram as contínuas indicações de Fidel, que apareciam de próprio punho em diferentes papéis de transmissão. Também são preservadas notas onde ele deu orientações, orientou ou criticou. Em uma delas dirigida a Jorge Enrique Mendoza, fundador da emissora, que atuou como editor e locutor, afirmou.
EXATIDÃO E PRECISÃO
Com a presença direta do Comandante-em-Chefe, a central transmissora conquistou sólido e indiscutível crédito, tanto na ilha quanto no exterior, pela exatidão dos dados e precisão do direcionamento.
A Rádio Rebelde manteve-se no ar durante toda a ofensiva, obtendo um impacto gigantesco, que a tornou um objetivo estratégico para o inimigo que a tentava localizar. Houve muitos bombardeios, mas eles nunca conseguiram acertar a localização exata da estação.
Fidel estabeleceu todas as medidas para a defesa do ponto onde se encontrava o transmissor, o que, juntamente com o hospital e a fábrica de minas, determinou, em parte, a estratégia de combate que se apresentava à ofensiva inimiga.
Houve momentos críticos em que a estação estava no meio da luta. Projéteis de morteiro caíram nas proximidades. Chegou-se a pensar em explodir a usina caso houvesse o perigo de ela ser tomada por forças inimigas. Mas a defesa poderia ser organizada.
Ao falar dos últimos meses de luta na Sierra Maestra, será necessário mencionar a Rádio Rebelde, outra combatente com atuação valiosa para alcançar a vitória.
Ao final, em 1º de janeiro de 1959, demonstrou toda a sua força, coragem e ascendencia junto à população quando, em rede nacional de televisão, denunciou a manobra do golpe de Estado, manobra dos Estados Unidos, em acordo com Fulgêncio Batista para impedir a vitória revolucionária.
Através das suas ondas foram transmitidas instruções ao povo para que não se deixassem confundir, o que foi cumprido e o país parou. Assim, desempenhou um importante papel político-ideológico que contribuiu decisivamente para a vitória naqueles momentos finais.
Hoje, quando a comunicação é um pilar do sistema de gestão governamental promovido pelo presidente Miguel Díaz-Canel, a Rádio Rebelde constitui um exemplo válido por sua indiscutível legitimidade.
E 65 anos depois de sua partida, continua sendo a estação carro-chefe da rádio cubana e de seus fundadores, um exemplo de intrepidez na transmissão de informações. Nem os projéteis, nem as bombas conseguiram calar suas vozes que ficaram no ar com: “Aqui Radio Rebelde…!”
arb/mma/hb
*Retirado do Boletim Revolução, pertencente ao Gabinete de Assuntos Históricos da Presidência da República de Cuba.