Por Alberto Salazar
Chefe da Redação Ásia e Oceania, foi correspondente da Prensa Latina no Vietnã
Dirigentes políticos e militares, ministros, embaixadores, tradutores, jornalistas e outros que tiveram a oportunidade de falar com eles ou testemunhar suas expressões uns com os outros, afirmam que seus pontos de concordância foram tantos que transcenderam o mero contato físico.
Os escritos e peças oratórias de ambos também refletiam um mútuo e profundo respeito e admiração, tanto pessoalmente como para com seus povos.
Na primeira de suas três visitas ao Vietnã (12 a 17 de setembro de 1973), o então primeiro-ministro cubano mencionou Ho Chi Minh em todas as suas aparições públicas. E em suas conversas com os líderes vietnamitas, segundo o que eles disseram, aconteceu a mesma coisa.
Poucas horas depois de chegar a Hanói, Fidel percorreu os lugares onde tio Ho trabalhou e passou seus últimos dias. Uma delas, talvez a mais cativante, foi a casinha onde o presidente vietnamita morou como preferência ao suntuoso palácio que, por sua posição, tinha pleno direito de habitar.
De estilo colonial, o prédio foi residência particular do governador francês e, após a independência do Vietnã (1954), o Partido e o Estado o consideraram o local adequado para abrigar o presidente.
Mas Ho Chi Minh não se sentia confortável em meio a tanto espaço e a seu pedido, uma pequena casa de bambu montada sobre palafitas foi construída para ele perto do palácio.
Ali, em 13 de setembro de 1973, na companhia do primeiro-ministro Pham Van Dong e do general Vo Nguyen Giap, Fidel, emocionado, confirmou a austeridade com que vivia o arquiteto da independência do Vietnã.
Na planta baixa, a mesa onde se reunia com o Bureau Político. E numa estante cheia de livros, um inevitável: “Guerra de Guerrilha”, de Che Guevara.
No andar de cima, no quarto, a cama ascética e arrumada onde o herói se despediu de sabe-se lá quantas noites mal dormidas.
Num simples armário de madeira, sandálias e alguns trajes tradicionais. E sobre uma mesinha, os últimos números do jornal Nhan Dan (O Povo), um ventilador e um despertador.
Ao lado de uma das janelas, a velha poltrona onde ele lia e meditava sobre o presente e o futuro de um país que lutava por sua independência há centenas de anos… Quantas vezes sonhou ali com um Vietnã 10 vezes mais bonita!
Muito perto da casa de madeira existe outra de alvenaria maciça para onde os dirigentes do país aconselharam Ho Chi Minh a mudar-se aquando do bombardeamento norte-americano de Hanói.
Em uma das salas, você pode ver uma mesa com 10 cadeiras e, em uma das paredes, um grande mapa do Vietnã com marcações do curso da guerra.
Ali, o General Giap explicou a Fidel que as últimas bandeiras e cartazes refletiam a situação no momento da morte de Ho Chi Minh, e o atualizou sobre como as coisas estavam indo naquele momento. Faltavam apenas 19 meses para a vitória final.
Fidel também esteve no pequeno lago localizado ao lado das duas casas. Em algumas escadas que dão para as águas calmas, tio Ho acenava ou batia palmas para avisar as carpas que trazia a comida diária.
Não é difícil imaginar que o passeio por esses lugares sagrados foi um momento de reencontro espiritual entre os líderes históricos dos dois países.
Na época da visita de Fidel, os restos mumificados de Ho Chi Minh ainda não repousavam no mausoléu onde estão hoje. O monumento começou a ser construído 10 dias antes de sua chegada e só foi inaugurado quase dois anos depois, em 29 de agosto de 1975.
Mas o líder cubano não precisou de mais para carregar no peito uma admiração cada vez maior por Ho Chi Minh.
Poucas horas depois de voltar a Cuba, depois de visitar cenas de guerra no centro do país, conversar por longas horas com os líderes vietnamitas e vislumbrar uma vitória que era “simplesmente uma questão de tempo”, Fidel resumiu suas impressões daqueles dias.
“Viemos a esta terra heróica com grande admiração pelo povo vietnamita e partiremos com uma admiração ainda maior. Somos encorajados por suas vitórias e seu exemplo extraordinário”, disse ele.
E sublinhou que só saiu com uma única dor, “a de não ter tido o privilégio de conhecer em vida o Presidente Ho Chi Minh, a quem tanto admiramos”.
Algo, porém, o consolou: “Mas compensa-nos o fato de ter visto e conhecido de perto o povo vietnamita e ver refletida sua obra, os seus ensinamentos, o seu trabalho, a sua educação, o seu exemplo, o seu heroísmo, a sua modéstia neles”.
Fidel Castro visitou novamente o Vietnã em 1995 e 2003. E sempre, antes e depois, sentiu o mesmo respeito e admiração pelo amigo, pelo irmão que só conheceu no caminho das ideias.
arb/asg/cm