23 de November de 2024
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A garra é uruguaia; o charrúa um mito

A garra é uruguaia; o charrúa um mito

Montevidéu (Prensa Latina) "A garra charrúa" define a tenacidade do povo uruguaio, o menor país do cone sul da América Latina. É amplamente utilizado para evocar as duas copas do mundo de futebol conquistadas por uma nação com menos de quatro milhões de habitantes.

Por Orlando Oramas León Correspondente-chefe da

Prensa Latina no Uruguai

Mas o termo, pelo menos à luz das pesquisas, descobertas arqueológicas e a contribuição da academia, não é ajustado cientificamente.

“É a mito instalado e que de certa forma nos define no contexto latino-americano sob o lema da garra charrua e a tradição uruguaia, embora não coincida com a realidade dos acontecimentos”.

A opinião é do historiador Jorge Céspedes, pesquisador do patrimônio indígena e diretor geral de Cultura do departamento de Maldonado, ao leste desta capital.

Em entrevista exclusiva à Prensa Latina, explicou que as investigações dos últimos anos indicam que o grupo humano mais representativo que habitou estas terras antes da chegada dos conquistadores europeus era outro.

Embora houvesse um grupo de povoados genericamente conhecidos como charrúas e que se deslocaram do que é Hoje a província de Entre Ríos, na Mesopotâmia argentina, cruzava o rio Uruguai e avançava sobre o território uruguaio, mas era uma minoria diante da presença de outra bem mais numerosa: a Guenoa-minuanes.

São estes, enfatiza, que representam, na verdade, do ponto de vista antropológico, a mais importante nação indígena do território uruguaio e que se estabeleceu desde a costa do rio Uruguai, departamento de Santos ao sul, então na bacia do o Rio de La Plata, e depois na costa atlântica, os atuais departamentos de Maldonado e Rocha e até o estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Eles tinham a estrutura hierárquica para exercer uma liderança, porque havia uma cacique que regulava as relações de troca, de convivência dentro do grupo. Trata-se, segundo ele, de uma pequena estrutura social com certas divisões de trabalho, que regulavam os movimentos baseados na busca de alimentos.

E o historiador conclui: talvez devêssemos começar a analisar se ao invés de falar da garra charrúa, o mais correto e justo seria referir-se à garra guenoa-minuanes.

RESISTÊNCIA À CONQUISTA

No século XVI, o território que o Uruguai ocupa hoje não apresentava atrativos para os conquistadores. “Os espanhóis não tinham colocado seus olhos e interesses nesta margem do rio Uruguai, uma planície semidesértica do ponto de vista populacional, quase nenhum animal indígena e ausência de metais. Meu entrevistado enfatiza que isso muda com a introdução da

pecuária do Paraguai e da Argentina. O gado se multiplicava livremente e quando tinha importância comercial (couro) era que os espanhóis atravessam o Río de la Plata desde Buenos Aires e os portugueses fazem o mesmo.

Todo o conhecimento que temos dessa época é dado pela atividade dos jesuítas do atual Paraguai com campanhas extrativistas para conduzir o gado, aponta.

“Os Jesuítas e os índios Guarani das missões que os acompanharam foram as que identificaram e nomearam todos os acidentes geográficos do território, por isso nossa toponímia preserva muitos elementos identificadores com a língua guarani”.

Violento com os povos indígenas o momento da implosão ocorre depois que os portugueses fundaram o primeiro importante assentamento europeu, a atual cidade de Colônia do Sacramento.

Os confrontos se multiplicaram com o processo de fundação de Montevidéu e a crescente presença espanhola nessas terras, resultando inclusive na chamada “guerra charrúa”, episódio de resistência e também de genocídio.

POVOS ABORIGINAIS COM ARTIGAS

Para o professor Céspedes a “Revolução Oriental é um dos poucos exemplos, junto com o do México, onde a população indígena é incorporada como um elemento muito importante no processo de busca pela independência”.

Junto com José Gervasio Artigas estão os charrúas, guaranis, guenoas, entre outros, acompanha camponeses, gaúchos, pequenos produtores, negros fugidos da escravidão, “os mais despossuídos”, fundamentais para o pensamento artiguista. No auge

de sua liderança, em 1815, o “protetor dos povos livres” estabeleceu uma enorme povos para dominar seu território, em coordenação com a revolução.

O exílio e o ostracismo de Artigas no Paraguai seguiram-se posteriormente às campanhas de extermínio dos grupos originários. Quatro de seus sobreviventes (conhecidos como “os últimos charrúas”) foram enviados a Paris para como “fenômenos raros”, inclusive o cacique Vaimaca Pirú, que acompanhou José Artigas em suas lutas pela independência.

PEQUENA HERANÇA

A população atual do Uruguai é aquele com menos presença de elementos aborígines em sua composição genética se compararmos com o resto de outras populações latino-americanas.

É uma realidade que o historiador Jorge Céspedes registra e acrescenta que é uma presença muito minoritária para poder identificar descendentes de charrúas, guenoas, yaros, guaranis e outros.

Lamenta também que não tenha ficado um grande patrimônio cultural a não ser algumas vozes que hoje fazem parte da gestão quotidiana.

Há palavras guarani especialmente em acidentes geográficos, mas pouquíssimas Guenoa Minuanes, exceto nomes de caciques importantes como Carapé, que dá nome a uma serra em Maldonado, e Casupá, como é chamada uma cidade do departamento da Flórida.

Para o pesquisador, é louvável que em seu país uma lei estabeleça o Dia da Nação Charrúa e a Identidade Indígena, comemorada todo dia 11 de abril.

No entanto, ele observa: na minha opinião pessoal, um erro foi cometido Foi um erro insistir nos charrúas e ignorar o grupo aborígine mais importante, os Guenoa Minuanes. O correto seria evocar a identidade indígena, e retirar o véu do esquecimento que por muitos anos ignorou nossos povos originários.

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