22 de November de 2024
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Dois anos de Lasso no governo, desastre social para Equador

Dois anos de Lasso no governo, desastre social para Equador

Quito, 24 mai (Prensa Latina) O presidente do Equador, Guillermo Lasso, completa neste 24 de maio dois anos no poder e em breve se despedirá do cargo em meio a turbulências políticas, insegurança, escândalos de corrupção e críticas por suas medidas neoliberais.

Por Adriana Robreño

Correspondente-chefe no Equador

O banqueiro conservador chegou ao Palácio Carondelet com 52 % dos votos contra seu adversário de esquerda, Andrés Arauz, e foi eleito apesar de promover um programa econômico neoliberal com a promessa de uma campanha de vacinação contra a Covid-19.

Tendo desfrutado de altos índices de aprovação devido à imunização, seu governo começou a decair, com a popularidade diminuindo como resultado de questões que afetavam os cidadãos e confrontos com o legislativo dominado pela oposição.

O episódio mais recente da crise política ocorreu no dia 17 de maio, quando o presidente decidiu dissolver a Assembleia Nacional (Parlamento) com um processo conhecido como “morte cruzada”, argumentando que houve um “choque grave” no país”.

Com este mecanismo, introduzido na Constituição de 2008 e nunca utilizado até agora, o governante encerrou o mandato dos deputados e pediu a convocação de eleições gerais antecipadas.

MORTE CRUZADA, UMA DECISÃO INÉDITA

Para o historiador Juan Paz y Miño, a decisão de Lasso de decretar morte cruzada mostra o fracasso do único presidente em 40 anos de história democrática a estar a ponto de ser destituído por impeachment, acusado de peculato.

Em conversa com a Prensa Latina, o analista comentou que a medida também mostra a derrota do modelo econômico promovido por neoliberais e empresários que acreditavam que administrar o Estado é como ser gerente de banco ou empresa.

Fica demonstrado mais uma vez que este tipo de governo empresarial não tem as soluções adequadas para o bem-estar e o desenvolvimento dos povos, afirmou Paz y Miño.

Por sua vez, considerou a morte cruzada uma oportunidade para o reordenamento das forças do país através de eleições presidenciais e legislativas, convocadas previamente.

O sociólogo Agustín Burbano concorda que, embora esse recurso tenha sido usado de forma fraudulenta para se livrar do impeachment e conseguir mais alguns meses na cadeira presidencial, é esperançoso.

Sabendo que daqui a três meses vamos eleger a Assembleia Nacional e um novo presidente dá alguma tranquilidade à sociedade e esperança de que o atual momento político se resolva através de eleições, Burbano afirmou em diálogo com esta agência.

GOVERNANDO PARA AS ELITES

O presidente de 67 anos apresentará um relatório de trabalho à nação após completar dois anos à frente do Executivo, discurso em que destacará o que considera conquistas de seu Governo.

Naquela época costuma-se fazer uma espécie de recontagem de obras, mas não há nada, enfatizou Paz y Miño, para quem a principal herança que Lasso deixará é a economia de privilégios e de ter favorecido a elite mais rica do Equador, que polarizou a sociedade.

Se examinarmos todos os índices sociais, veremos que desde 2017 no Equador há cada vez mais problemas, disse o historiador.

Ele destacou que aparentemente tudo funciona bem, com estabilidade orçamentária, de receitas e despesas, enquanto o presidente se orgulha de ter a menor inflação da América Latina, embora com uma economia dolarizada.

No entanto, todos os índices sociais estão em baixa e a isso se soma ao problema da insegurança, enfatizou o analista, que classificou o legado de Lasso como um “desastre social”.

Reconheceu que será difícil ultrapassar estas dificuldades e apelou aos dirigentes políticos que em breve tomarão posse que levantem uma forte bandeira de coerência e consolidação de um projeto de transformação social e econômica para Equador.

VIOLÊNCIA E INSEGURANÇA

O problema de segurança no país se agravou durante a presidência de Lasso, com roubos, assassinatos, sequestros, rebeliões, extorsões e outros crimes mais frequentes.

Vários presídios do país já foram palco de massacres entre presos e já são mais de 400 presos mortos nas penitenciárias, ou seja, sob custódia do Estado.

A onda de violência nas ruas gera medo na população, afeta o comércio e o turismo, enquanto quadrilhas criminosas disputam o controle do tráfico de drogas nas rotas para os Estados Unidos e Europa. Para responder ao problema, em mais de 15 ocasiões o Chefe do Executivo decretou o estado de emergência, reforçou a presença das Forças Armadas em ações de combate à criminalidade em diferentes províncias, mas o índice de mortes violentas no país continua a aumentar.

Especialistas da área e cidadãos alertam para a necessidade de investimentos tanto para fortalecer as forças de segurança pública, quanto para promover o desenvolvimento social e acabar com o mal pela raiz.

ALEGAÇÕES DE CORRUPÇÃO E HERANÇA DO BANQUEIRO

Nos dois últimos anos o governante foi acusado em várias ocasiões por suas ligações com casos de corrupção.

Seu nome apareceu em 2021 no que é internacionalmente conhecido como Pandora Papers, uma investigação em que foi acusado de ter escondido bens em paraísos fiscais, algo que a lei equatoriana proíbe para funcionários públicos.

Soma-se a isso o crime de peculato (malversação) pelo qual foi submetido a um processo político na Assembleia, processo que ele mesmo deixou inacabado por temer ser afastado por acusações de não evitar danos ao Estado de um contrato de transporte de petróleo com irregularidades.

Lasso também foi citado com supostos vínculos com o narcotráfico, principalmente com a máfia albanesa, por meio de seu cunhado, Danilo Carrera, conhecido como El Gran Padrino (O Grande Poderoso Chefão).

O presidente também enfrentou a tensão social com as mobilizações de diversos setores, como o indígena, que promoveu uma histórica greve nacional de 18 dias em junho de 2022 contra as medidas econômicas neoliberais.

Na época, o parlamento promoveu um processo de afastamento do governante devido à grave crise política e comoção interna, mas não obteve votos suficientes e ele permaneceu no cargo.

O diálogo entre o Governo e as organizações indígenas estabelecido após os protestos terminou com mais de 200 acordos, sendo que a maioria deles ficou no papel.

A rejeição popular ao governante ultrapassa os 80%, segundo pesquisas de maio de 2023, e muitos descrevem Lasso como o pior presidente da história do país devido aos problemas palpáveis no cotidiano da maioria.

Embora o Executivo assegure que a taxa de desemprego caiu nestes dois anos, a crise econômica e o emprego informal são hoje uma realidade.

Junto com a insegurança, a falta de oportunidades de trabalho leva diariamente milhares de equatorianos a usar rotas perigosas para deixar o país, que vive uma crise migratória.

Resumindo, Lasso está dois anos no cargo, mas faltam apenas seis meses para o fim de seu governo, no qual analistas e organizações sociais já alertam que o neoliberalismo se aprofundará com os decretos de lei anunciados.

Enquanto isso, o olhar agora está mais do que no atual chefe do Executivo no seu substituto, que terá de recuperar a nação frente ao desastre que o banqueiro deixa como herança.

arb/avr/cm

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