5 de November de 2024
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Como analisar a pobreza para conseguir uma mudança?

Geydis-Fundora

Como analisar a pobreza para conseguir uma mudança?

Havana (Prensa Latina) Sobre a pobreza na América Latina e suas possíveis soluções, existem visões reducionistas em relação a visões multidimensionais que incluem o apoio a políticas estatais para alcançar mudanças, disse Geydis Fundora, doutora em Ciências Sociológicas.

Por Teyuné Díaz Díaz

Redação de Economia da Prensa Latina

Outras abordagens excluem a transformação combinada dos níveis comunidade, família, domicílio e pessoa, e levam em conta apenas um deles, explicou em exclusivo à Prensa Latina a também professora titular da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais de Cuba.

Algumas análises consideram a pobreza um atributo das pessoas, uma qualidade, um estado dado, enquanto movimentos de esquerda contra-hegemônicos referem que esse indivíduo não nasceu pobre, e que ninguém está predestinado a viver nessa condição.

Enquanto isso, outros se concentram nas pessoas e famílias pobres, nas consequências, mas ignoram as causas, enfatizou.

Existem também posições extremas, enfatizou; Alguns culpam o indivíduo por estar naquela situação, e outros o sistema por não oferecer educação adequada, serviços de saúde ou apoio para aproveitar as oportunidades de forma coerente. Em vez disso, há outro ponto de vista, a co-responsabilidade; Isso sugere que a pobreza tem uma causa econômica, material real, mas também é uma expressão cultural, avaliou a doutora.

A esses debates somam-se as abordagens sobre marginalidade, produção da pobreza, desigualdades, estratificação e reprodução geracional e intergeracional da pobreza, enumerou.

DIFERENTES FORMAS DE ANÁLISE

A pobreza econômica, explicou a especialista, implica falta de bens, patrimônio, meios de produção e outros, mas limitar-se a analisar a renda -a melhor forma de captar os dados- seria abordar o fenômeno de forma reducionista.

Bem, pode haver pessoas com pobreza de renda, porém, com acesso à educação, saúde, serviços culturais, direito de participação ou com casa própria, argumentou Fundora.

Estudando a pobreza apenas pela direção da renda, continuou ela, uma série de dimensões se perderia.

É por isso que a abordagem da pobreza multidimensional é tão relevante, frisou, porque o aumento da renda deve ser apoiado por políticas que melhorem as condições de vida do indivíduo.

Essas condições pressupõem moradia, acesso à água, educação, combustível para cozinhar e serviços de saúde de qualidade.

Um elemento problematizado é a chamada população-alvo; Isso se refere a “em quem e no que devo me concentrar para desenvolver políticas para lidar com a pobreza e depois para onde direcionar a transformação”.

Ou seja, nas pessoas, nos lares, nas comunidades em situação de pobreza ou em todas elas como um todo, analisou a pesquisadora.

Se você trabalha com a pessoa em situação de pobreza, mas não com seu contexto familiar ou com a comunidade, há possibilidades de regressão; Concentrar-se apenas nas comunidades perderia as diferentes expressões dos indivíduos e famílias que compõem essa comunidade.

Assim, nem todos usufruirão da mesma forma dos serviços introduzidos, fruto de um trabalho não paralelo ao nível da comunidade, família, agregado familiar e individual. Daí a importância de uma ação que combine a transformação nessa diversidade de escalas, defendeu Fundora.

Uma discussão importante na América Latina são as visões técnicas ora utilizadas por organizações e atores internacionais, ora mais politizadas levantadas pelos movimentos sociais latino-americanos, especialmente de esquerda.

Há quem veja a pobreza como um atributo, uma qualidade, um estado dado das pessoas, enquanto alguns movimentos de esquerda dizem que ninguém nasce predestinado a viver na pobreza, reiterou.

Trata-se de uma pessoa empobrecida por um efeito, torna-se pobre na medida em que nasce e cresce num espaço geográfico ou num Estado que não cria condições para o desenvolvimento adequado do indivíduo.

Outras formas contrastantes de análise são as visões de resultados e processos; a primeira aborda apenas as consequências, enquanto a segunda aborda a trajetória, o que levou o indivíduo àquela situação e por que ele permanece nela.

E TEM MAIS…

Existem também posições extremas. Coloca-se o responsável: ele é pobre porque quer, como sistema eu dei educação e saúde, mas o indivíduo não usufrui desses benefícios.

A outra posição assegura que o sistema não soube oferecer educação ou serviços de saúde adequados, ou apoio para aproveitar as oportunidades de forma coerente.

Alguns olhares abordam a marginalidade, representada em lugares com evidente segregação espacial fomentada, ou não, pelo sistema e, ainda assim, há pessoas que encontram nessas margens suas estratégias de vida.

A eles se somam os processos de produção da pobreza, quadro em que se estudam os padrões de comportamento transmitidos na mesma família ou no mesmo grupo social, mas também a questão estrutural, sistêmica.

Em países cujo modelo de desenvolvimento está comprometido com maior investimento tecnológico, isso traz consigo uma redução da força de trabalho; pessoas são expulsas de seus empregos e esta é uma das causas da pobreza laboral.

Neste grupo também estão os diferentes tipos de desigualdades que obviamente geram pobreza, e que podem ser de gênero, raciais, de orientação sexual e até territoriais.

A pobreza gera desigualdades e as desigualdades geram pobreza, é um círculo vicioso, acrescentou.

Mas há mais elementos como a infantilização da pobreza, a sua reprodução geracional e intergeracional, e em todos eles existe aquele denominador comum de repetição do indicador.

Em meio a essas análises e às múltiplas crises pelas quais o mundo passa, surge uma pergunta permanente: será possível cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de erradicar a pobreza até 2030?

arb/arc/tdd/hb

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