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Brics, sonho do sul, pesadelo dos Estados Unidos

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Brics, sonho do sul, pesadelo dos Estados Unidos

Por Antonio Rondón García
Havana, 20 jun (Prensa Latina) O grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), prestes a realizar sua cúpula na Cidade do Cabo, se tornará um desejo realizado para o Sul e um pesadelo para a insistência hegemônica dos Estados Unidos.

A primeira coisa que se destaca é a longa lista de interessados em fazer parte dos Brics ou pelo menos iniciar um processo para se tornar um observador, embora o que mais deve preocupar Washington sejam os pedidos para fazer parte de sua entidade financeira.

A Arábia Saudita, um dos principais produtores de petróleo do mundo e nos últimos tempos com passos claros para sair da subordinação à Casa Branca, manifestou o seu interesse em fazer parte do Novo Banco de Desenvolvimento do referido quinteto de países.

Por outro lado, os Estados dos Brics são informados com crescente força de travar um mecanismo para realizar suas transações comerciais nas respectivas moedas nacionais, a fim de evitar o uso do dólar nessa prática.

A China, por seu lado, para reforçar a sua segurança financeira, comprou um total de 144 toneladas de ouro de Novembro a Maio, segundo o Banco do Povo daquele país asiático.

De fato, a tendência de deixar de lado o dólar, se é um termo comum nas redes sociais, viralizou entre os países que representam o chamado sul global.

Muitas dessas nações já verificaram essa opção com acordos de uso de moedas nacionais, como os firmados entre Índia e Sri Lanka, ou entre China e Arábia Saudita para comercializar petróleo sem o uso do dólar, algo que encurralaria a chamada petrodólares.

A base técnica para uma moeda dos Brics já existe, mas exige decisões políticas que talvez nem todos estejam em condições de tomar, diz o Instituto de Coordenadas de Governança e Economia Aplicada.

Se o fizerem, será uma primeira tentativa sistêmica de competir com o domínio global do dólar norte-americano e o início do regime financeiro bipolar previsto na altura pelo conceituado economista turco Nouriel Roubini, afirma aquela entidade científica. Além disso, um estudo recente mostrou que a participação dos países do Brics na economia mundial supera alguns parâmetros apontados pelo Grupo dos Sete (Estados Unidos, Japão, Canadá, Itália, Reino Unido, França e Alemanha).

A Paridade do Poder de Compra (PPC) dos Brics situa-se em 31,7% do total mundial, acima dos 30,7 do G7, indica o referido instituto.

Ao mesmo tempo, a contribuição dos Brics para o crescimento mundial nos últimos cinco anos atingiu 31,2 pontos, acima dos 25,6 pontos aportados pelos países mais industrializados.

Isso ocorre antes que a esperada expansão dos Brics possa se concretizar após sua próxima cúpula, com o pedido de adesão de mais de 20 países como Turquia, Irã, Arábia Saudita, Indonésia, México, Argentina, Argélia e Egito, entre outros.

A tendência parece confirmar o quinteto como alternativa para Estados que até pouco tempo atrás estiveram sob subordinação norte-americana, tudo isso em meio às práticas de sanções e apropriações aplicadas pela Casa Branca.

Na época, o presidente russo, Vladimir Putin, comentando as tentativas de usar parte dos 300 bilhões de dólares do Banco Central da Rússia, congelados em países ocidentais, para outros fins, alertou que isso criava um precedente muito negativo.

Muitas das nações que antes dependiam de ter contas seguras em bancos ocidentais agora estão adicionando mais dúvidas e procurando outras maneiras de evitar riscos, porque, como dizem os analistas, nunca se sabe quando eles se tornarão inimigos de Washington.

Ao contrário das práticas das cúpulas do Grupo dos Sete, onde se gasta muito tempo planejando sanções ou bloqueios para países como Rússia ou China, o Brics fala de planos de desenvolvimento, investimento e cooperação.

O Novo Banco de Desenvolvimento, criado em 2015, ao contrário do Fundo Monetário Internacional, evita apresentar exigências socioeconômicas aos futuros Estados beneficiários, exemplo que no Ocidente exige uma contraofensiva mediática, como a que está em curso.

Muitos especialistas em Washington, Berlim ou Londres advertem que um dos pesadelos que nunca deveria ter ocorrido, como afirma o veterano político Henry Kissinger, ou seja, a associação da Rússia e da China, agora coloca o obstinado hegemonismo estadunidense contra a parede.

Assim, por exemplo, a primeira doutrina de segurança alemã considera que a China tenta de várias maneiras remodelar a ordem internacional baseada em regras existente, cujo conteúdo o Ocidente evita explicar.

Berlim acredita que Beijing “reivindica a supremacia regional de forma cada vez mais agressiva e repetidamente age contra nossos interesses e valores”, um argumento que não deveria ser motivo para sanções ou estratégias de contenção, de acordo com o direito internacional.

A Europa pressiona ou exorta os outros de uma maneira muito peculiar a se juntarem à sua guerra econômica contra a Rússia e a conter a China, assim como a presidente da Comissão Européia, Ursula von der Leyen, parecia fazer em sua recente turnê latino-americana.

Mas se você olhar a lista de participantes de 75 países em uma nova edição do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo ou a lista de candidatos a entrar nos Brics, o pesadelo dos Estados Unidos e a preocupação europeia estão longe de se dissipar.

ro/to

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