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Emergência hídrica no Uruguai

Emergência hídrica no Uruguai

Montevideo, 21 jun (Prensa Latina) No Uruguai, urge a emergência agrícola, e nesta capital e na região metropolitana a emergência hídrica, ambas associadas à seca que persiste pelo terceiro ano.

Por Orlando Oramas Leon

Correspondente-chefe no Uruguai

A primeira está em vigor e se estendeu desde o ano anterior e deu início a programas e planos de ajuda aos produtores de produtos agrícolas que estão entre as principais linhas de exportação e fontes de divisas do país. Entre eles está a soja, a cultura mais difundida na geografia uruguaia, cuja colheita foi de apenas 20% em relação ao ano anterior devido à onda de calor.

Os solos estão secos e isso reduz as pastagens e a alimentação do gado, principalmente a carne bovina, fonte tradicional das exportações uruguaias, agora diminuída.

A seca continuou e, além de afetar a economia e seus atores, direcionou seus canhões contra a população secando as bacias hidrográficas, principalmente em Montevidéu, Canelones e na região metropolitana.

É o caso do rio Santa Lucía, cuja bacia abastece a represa San Severino, principal fonte de abastecimento de dois milhões de uruguaios que vivem na região metropolitana.

A barragem tem capacidade para mais de 60 milhões de metros cúbicos e mal chega aos três milhões, um mínimo histórico que indica a gravidade da situação. Para evitar que o reservatório seque, a administração das Obras Estaduais de Saneamento (OSE) começou a misturar as águas do rio Santa Lucía com as do gigantesco estuário do Rio da Prata, que desemboca no Oceano Atlântico a leste.

O resultado é uma água com altos parâmetros de cloretos e sódio, bebível, mas não potável, segundo qualificação do ministro do Meio Ambiente, Robert Bouvier.

Embora com a aprovação das autoridades de saúde, a água corrente que sai da torneira não deve ser consumida por grávidas, bebês e doentes com várias doenças crônicas, conforme recomendado pela Dra. Karina Rando, Ministra da Saúde Pública.

Quase um mês depois de a OSE ter aumentado os teores de cloretos e sódio, o secretário da Presidência, Álvaro Delgado, afirmou que o Governo vai “garantir o abastecimento de água à população com a qualidade atual”.

PARA ALTERAR A COMPOSIÇÃO DA ÁGUA NOVAMENTE

Disse isso em 16 de maio, mas algumas semanas depois o presidente Luis Lacalle Pou declarou emergência hídrica e alertou que a maneira mais provável de manter o abastecimento em Montevidéu seria alterar novamente a composição da água.

Foi numa conferência de imprensa após uma longa reunião com ministros de gabinete, representantes da OSE e do Gabinete do Orçamento, e na qual anunciou um investimento de 20 milhões de dólares.

Segundo o presidente, em um mês será construída uma represa para aproveitar a água doce do rio San José e combiná-la com a do Santa Lucía para ampliar o aproveitamento da represa San Severino.

Entretanto, terá que tirar mais água do Rio da Prata e será mais salobra e carregada de cloretos, questão que preocupa a opinião pública, tanto pelo custo da água engarrafada como, sobretudo, pela o impacto na saúde.

Entre as medidas anunciadas pelo governante está a eliminação temporária dos impostos sobre a água engarrafada, o que sugere, segundo a expressão utilizada, que os preços deste hoje vital produto vão cair. No próprio dia em que o presidente fez tais anúncios, foi interrogado por manifestantes na cidade de Sauce, no ato pelo 259º nascimento do herói nacional José Gervasio Artigas.

“Água para o povo” era um dos slogans e os cartazes dos manifestantes diziam: “Não é seca, é saque”.

Trata-se de uma alusão às críticas da oposição política e do sindicato OSE ao desmantelamento daquela empresa pública, com a sua força de trabalho dizimada e recursos cortados.

Isso prova, segundo a Frente Ampla, que o governo não previu o impacto da seca sobre a população e que a crise hídrica o pegou desprevenido.

A verdade é que com os atuais níveis de abastecimento, e a atual e comprometida qualidade da água, em San Severino existe uma reserva para apenas 30 dias.

Nos próximos dias, os técnicos do Ministério da Saúde Pública vão decidir quanto mais podem ser os novos teores máximos de cloretos e sódio para que a água continue a chegar e “continuar a ser potável”.

Acontece uma fórmula que cria cada vez mais desconfiança no público, pelo menos avisado que a qualidade da água da OSE vai continuar a piorar, quando as chuvas ainda não aparecerem no horizonte.

arb/ool/cm

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