Ollantay Itzamná*, colaborador da Prensa Latina
Após a Segunda Guerra Mundial, o então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, em 1949, dividiu o mundo entre: os desenvolvidos (eles) e os subdesenvolvidos (nós). E, com base no “consenso” da Organização das Nações Unidas Nações Unidas (ONU), Europa e EUA. Eles empreenderam o programa de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID) para países subdesenvolvidos. O objetivo era e é: Desenvolvimento e progresso para o povo.
Quase um século depois da vigência da cooperação internacional para o desenvolvimento, confirmamos que estes programas, em grande medida, foram mecanismos de recolonização para criar as condições socioculturais que tornaram possível a expansão do capitalismo (desapropriação/destruição de territórios). Em grande medida, os programas de cooperação internacional desintegraram o nosso povo e empurraram-nos para o consumismo e para a ilusão do empreendedorismo.
No caso das comunidades camponesas, a cooperação internacional para o desenvolvimento promoveu a “revolução verde” que destruiu e continua a destruir os ecossistemas e tecidos de vida nos nossos territórios. Desintegrou socialmente comunidades e descamponesizou famílias. Agora, as famílias que ainda se dedicam à produção agrícola não querem mais produzir sem agrotóxicos.
A bicentenária história branca e sangrenta da intervenção norte-americana ou do colonialismo (cooperação) tem facetas desastrosas, como o Plano Abya Yala para o Progresso no nosso Continente. O dito colonialismo norte-americano, hoje, ganha hegemonia com a cooperação letal da USAID, que já não só coloniza mentes e sentimentos, mas até fertiliza o “progressismo norte-americano” para continuar colonizando os povos, como é o caso do atual governo da Guatemala.
Da parte dos povos de Abya Yala sentimos que a cooperação internacional para o desenvolvimento foi um dos novos mecanismos para a recolonização e perpetuação do domínio dos “vencedores” da Segunda Guerra Mundial sobre os povos do Sul.
Quando Truman disse desenvolvimento e subdesenvolvimento, anunciou o horizonte do neocolonialismo no Sul para o (mau) desenvolvimento do Norte. Sem colonizar as mentes e os sentimentos dos povos do Sul, através da cooperação internacional “apolítica”, seria impensável expandir o capitalismo em todo o mundo. Conseqüentemente, alcançar o desenvolvimento do Norte sobre as cinzas do Sul.
Mas, o desenvolvimentismo promovido a partir do Norte, não só colocou o tecido da Vida no planeta Terra numa “situação limite”, mas também aguçou ou “moveu” o Sul para o Norte. A tal ponto que, agora, aquele Sul empobrecido no opulento Norte exige cooperação para o desenvolvimento. Mas, não há mais tempo, nem condições, para expandir o “desenvolvimento” a mais pessoas, muito menos indefinidamente. A Terra, como macro ecossistema de vida, não dá mais.
Neste contexto histórico e planetário, falámos com uma sulista do Norte, Eneko Gerrikabeitia, do País Basco, sobre a necessidade urgente de descolonizar a cooperação internacional e projetá-la como um “acompanhamento” entre os povos para uma boa vida, como filhos e filhas da mãe Terra. Agora, mais do que nunca, os povos colonizados do Norte e do Sul precisam de se unir para embarcar nos nossos caminhos de emancipação para a dignificação da nossa Mãe Terra.
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