Por Ivette Fernández Sosa
O acontecimento foi descrito, precisamente, como um acontecimento histórico pelo representante especial do Secretário-Geral e chefe da Missão de Verificação da ONU na Colômbia, Carlos Ruiz, que também reconheceu que só uma paz construída a partir da sociedade pode ser sustentável e duradoura. Chegar a este ponto das negociações não foi isento de conflitos, alguns deles até aparentemente inconciliáveis entre as partes.
Um dos momentos de tensão mais recentes teve a ver com a decisão de congelar as conversações programadas para abril passado na Venezuela pelo ELN, em protesto contra uma alegada operação de desmobilização levada a cabo pelo Governo em Nariño (sudoeste).
No entanto, uma delegação desse grupo insurgente participou numa reunião extraordinária realizada de 12 a 22 de abril em Caracas, após a qual anunciou que se reuniria novamente com o seu homólogo em maio.
Posteriormente, na primeira semana deste mês, o ELN informou que retomaria a prática de retenções econômicas em resposta ao incumprimento do Governo na criação e implementação do Fundo Multidoadores para o Processo de Paz, como alegou.
Nessa altura, a delegação governamental na Mesa de Diálogo instou aquela guerrilha a manter o compromisso assumido com a sociedade e a comunidade internacional de acabar com as retenções, ao mesmo tempo que esclareceu que o objectivo do referido fundo não pretendia ser uma compensação pela suspensão de sequestro.
Mais recentemente, o ELN atribuiu o surgimento do que chamou de uma “suposta dissidência” daquela estrutura guerrilheira em Nariño a um plano organizado pelo gabinete do presidente, Nicolás Petro, e oficializado pelo seu alto-comissário para a Paz, Otty Patiño.
A delegação governamental classificou então como ficção e autoengano que o ELN atribuísse a existência do que chamou de crise interna daquela estrutura a uma estratégia do aparelho executivo, e que culminou na separação do grupo liderado por Gabriel Yepes , que se identifica como chefe da Frente Comunitária do Sul.
Porém, e apesar dos constantes atritos, no dia 25 de maio foi assinado na capital da Venezuela o primeiro ponto concebido no acordo que reconhece o desenvolvimento do processo de participação da sociedade na construção da paz.
O comunicado divulgado após a assinatura explicava que para iniciar esse caminho de busca de vozes, ações, saberes e métodos, foi formado o Comitê Nacional de Participação (CNP), espaço que a partir de uma lógica coletiva desenhou e promoveu a realização de 78 pré-encontros e reuniões nacionais e regionais.
Explicou que destas reuniões participaram 8.565 representantes de organizações sociais de 30 setores; bem como 3.217 associações em todas as regiões do país, 19 prisões e a diáspora em 14 países da América Latina, América do Norte e Europa.
O resultado deste processo é um Desenho de Participação, um Plano Nacional e algumas recomendações, afirma o comunicado divulgado, e afirma que o conjunto de documentos estará à disposição da sociedade para consulta.
O objetivo de envolver os cidadãos neste processo é construir uma agenda de transformações para a paz, promovida a partir de uma aliança social e política que conduza a um grande Acordo Nacional para superar o conflito político, social, econômico e armado.
“Sabemos que a paz não se constrói no esquecimento e na impunidade e que a voz das vítimas é fundamental neste processo e na legitimidade dos acordos”, afirmaram os delegados do governo colombiano e do ELN em seu comunicado.
Finalmente, apesar das duras recriminações de ambos os lados nos últimos meses, as partes conseguiram chegar a acordo sobre uma questão crucial.
Como reconheceram, “a paz na Colômbia requer todas as vozes, todos os povos, comunidades, pessoas, processos e formas de construir uma nação”.
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